google.com, pub-7850997522645995, DIRECT, f08c47fec0942fa0
google.com, pub-7850997522645995, DIRECT, f08c47fec0942fa0Por Mayala Fernandes - Brasil de Fato
Pela primeira vez na história do Paraná, uma mulher indígena ocupará o cargo de vereadora. Flávia Kaingang, de 29 anos, foi eleita com 298 votos para a Câmara Municipal de São Jerônimo da Serra, no norte do estado. A pedagoga e ativista indígena ocupará uma das nove cadeiras do legislativo municipal, representando um feito inédito em uma cidade onde apenas 31% das candidaturas nas eleições de 2024 foram de mulheres. Dos nove eleitos, apenas duas são mulheres.
Flávia, que já havia tentado uma vaga nas eleições de 2020, afirmou que seu objetivo é representar não só a comunidade indígena, mas também os jovens e mulheres da cidade. "Quero representar o meu povo dentro da prefeitura, atender os jovens e as mulheres indígenas. Às vezes, eles não conseguem se comunicar muito bem ou sentem vergonha, mas com um indígena representando, vão conseguir falar e levar suas demandas", explicou.
As mulheres foram as mais engajadas na candidatura de Flávia. / Foto: Arquivo Pessoal
A eleição de Flávia Kaingang acontece quase 50 anos após o primeiro indígena ser eleito vereador no Paraná, Ângelo Kretã, em Mangueirinha, no sudoeste do estado, em 1976. O contexto político, no entanto, é diferente. Hoje, a presença de mulheres indígenas em espaços de poder reflete uma busca crescente por protagonismo político. "Foi uma campanha muito difícil, porque São Jerônimo da Serra é um município extremamente machista. Eu também não tinha nenhuma verba, mas a população abraçou a campanha e me ajudou muito", revelou Flávia.
Filiada ao Partido da Renovação Democrática (PRD), Flávia está envolvida em movimentos sociais desde os 14 anos, participando de lutas históricas dos povos indígenas, como o Acampamento Terra Livre, realizado anualmente em Brasília. Mesmo morando fora da Terra Indígena (TI) São Jerônimo da Serra desde os 16 anos, a vereadora mantém fortes laços com o território onde vivem seus irmãos e sua mãe. Após sua formatura em pedagogia, retornou para dar aulas na escola da aldeia.
Representação além das fronteiras indígenas
Embora seja a primeira mulher indígena a ocupar um cargo de vereadora no Paraná, Flávia destaca que sua atuação não será limitada à comunidade indígena. "Eu sou uma vereadora indígena, mas não represento apenas a comunidade indígena. Quero mostrar que podemos falar por nós mesmos, mas também pelos não indígenas. Nós temos essa capacidade", afirmou. Ela ainda enfatizou seu compromisso com projetos voltados para as mulheres e comunidades, focando na criação de emprego e renda.
A eleição de Flávia é celebrada pela Associação das Mulheres Indígenas Organizadas em Rede (Amior), que considera sua vitória um marco significativo. "Para a luta das mulheres indígenas, essa eleição vai dar um impulso significativo, porque ela inspira outras mulheres a lutarem por esse direito de acessar esses espaços de tomada de decisão", ressaltou Amauê Jacintho, coordenadora da Amior.
Amauê também destacou o impacto do machismo dentro dos territórios indígenas como um dos principais desafios enfrentados pelas mulheres indígenas. "A eleição da Flávia Kaingang demonstra que, apesar dos desafios, é possível acessar esses espaços", concluiu.
Edição: Ana Carolina Caldas